A arte de desafiar os próprios limites… A arte de ser enganado pelo contrário… parte 3
Postado em 15/01/2008


postado por Nando Fernandes

É verdade, dormir dobrado não é fácil, nós precisávamos muito de uma noite de gente, dormindo numa cama, por no mínimo 8 horas. Mas isso não aconteceu tão cedo! Cheguei da festa, abri meu saco preto com todas as roupas atropeladas e fui lavá-las na pia do quarto do hotel. Meu parceiro de quarto é o Fábio Laguna, e dessa vez nosso quarto mais parecia uma lavanderia de tantas roupas minhas e dele penduradas por todos os lados do quarto.

Acordamos no outro dia que seria para todos um dia de folga menos para o Aquiles, pois, ele tinha um workshop de 3 horas pela frente.

Saímos do hotel junto com nossa produtora local, a Tay, e fomos ver um outdoor com a propaganda sobre o workshop do Aquiles, tiramos algumas fotos e pra variar, tivemos um “quebra-quebra” bem na esquina de duas ruas super movimentadas onde todos pararam pra olhar a embolada e novos hematomas foram adquiridos por todos. Na verdade era para ter um “back light” com propaganda do show da banda também, mas o Contrário e o Murphy também adoram viagens internacionais e foram com a gente para Assunção… A propaganda do Hangar estava um “back light” que girava e tinha três faces, sendo que as outras duas faces tinham outras propagandas… Advinha que face descolou e estragou? Começa com Han…

Na seqüência fomos almoçar numa churrascaria onde o proprietário era carioca – gente fina o cara – que nos tratou super bem, e o tema geral ainda era “que o contrário tinha enganado o Martinez” e eu ficava imitando o Gil Gomes contando a história, o Aquiles se mijava de rir o tempo todo junto com o Fábio. Aquele dia pensei “hoje o louco vai espanar”, mas ele segurou a onda de novo. Depois do almoço voltamos para o hotel enquanto o Aquiles foi para o local do seu workshop encontrar o Bussano, o Daniel e o Buba para a montagem da bateria e do merchandising do evento.

Fiquei na piscina junto com o Martinez e o Mello, onde conversamos muito tempo sobre assuntos da banda. O Fábio estava maluco com um monte de músicas que ele tinha que baixar da net para alguns trabalhos de final de ano.

Logo chegou a noite e por volta das 18:00h fomos para um teatro maravilhoso dentro de um campus onde seria realizado o workshop do Aquiles. Fiquei surpreso com a beleza e estrutura do local! Faltavam algumas horas e a galera já enchia a porta do teatro, alguns com camisetas do Aquiles, outros com a do Hangar, vi até uma do Angra. Dito e feito, mais de 400 pessoas assistiram, inclusive eu, pela primeira vez, uma verdadeira aula em grupo, onde o Polvo conduziu todos os assuntos com muita segurança, sendo o mais detalhista possível para cada pergunta e, no final, após tocar por quase três horas, ter a coragem de chamar todos os fans com camisetas do Hangar, Aquiles e Angra para subirem ao palco e assistir atrás dele as duas últimas músicas do workshow! Foram cerca de trinta pessoas, ali olhando de perto tudo acontecendo e pirando com aquela experiência de ver seu ídolo tocando tão perto!

Depois do workshop ficamos até duas da manhã com os fans tirando fotos, assinando cds e posters, visitamos também um pub muito legal, onde jantamos assistindo um vídeo do Jetro Tull. Não era permitido fumar e acabamos fazendo uma foto bem legal usando cigarros… Em seguida voltamos para o hotel e dormimos.

No outro dia acordamos às 7h00, pois tínhamos uma entrevista numa rádio, e logo depois num programa de televisão. Na rádio a entrevista foi muito legal: divulgamos o show, tocou a música “Call me in the name of death”, sorteamos ingressos, falamos sobre site, orkut, blogs, myspace etc, etc… Tirando o fato de que o apresentador confundiu tudo no começo da entrevista, dizendo que na banda tinha o Mike Vescera (não sei de onde ele tirou isso, mas tudo bem) e pior, não era nem no meu lugar, era no lugar do Mello.

Em seguida fomos para a maior emissora de televisão do Paraguai. No programa de um chef de cozinha chamado Rodolfo, o mais famoso do País. Chegamos e fomos recebidos pela produtora que nos levou direto para a maquiagem. Só explicando, sempre que se vai fazer televisão, tem que maquiar é regra, ninguém aparece na telinha sem o bendito pozinho na cara! Terminado o conserto na cara dos bugres, logo fomos chamados pra começar a gravar, e lá fomos nós para o estúdio. Chegando lá, vimos o “Contrário” mordendo a idéia do apresentador que nos chamava de Angra, e todos nós fora das câmeras balançando os braços desesperados dizendo “não, não, não, é Hangar, é Hangar” e ele corrigia e gritava o nome certo “Hangar, isso! No é Angra e si Hangar”. Foi muito engraçado, rimos muito!

Logo tudo foi corrigido e entramos para a entrevista. Apresentei todos os integrantes e começaram as perguntas. No meio da parada, o cozinheiro maluco começou a virar as panelas de cabeça pra baixo e pediu para o Aquiles fazer um solo de batera. Segurei uma tampa como se fosse um prato e me arrependi amargamente, pois o solo era com duas facas no lugar das baquetas! O cara quase cortou meu dedo fora! Uma outra hora, o entrevistador tentou abaixar meus óculos que estava na minha cabeça e enroscou no meu cabelo, daí comecei a “banguear” jogando cabelo pra todo lado na cozinha do maluco e os meus óculos voaram pelo estúdio. Ele tava fazendo uma berinjela com ricota, muito boa que comemos no final da entrevista. Na saída fomos tirar umas fotos embaixo de uma das antenas gigantes da emissora, e advinha o que aconteceu? Quebra-quebra, o pau comeu de novo e, dessa vez, na grama! Saiu todo mundo coçando que nem “loco” e os seguranças já olhando estranho pra gente.

Fora da emissora, encontramos dois malucos numa carroça cheia de tranqueira e com um megafone que eles estavam gritando sei lá o que. Parei a carroça e falei que queria dar um recado importante. Eles olharam assustados vendo 5 cabeludos de preto ao meio dia embaixo de um sol de 40°C e passou uma bolacha de ferro cheia de furo que era o microfone dele e eu falei várias vezes bem alto “atenção povo do Paraguai, vocês foram enganados pelo contrário, vocês foram enganados pelo contrário”.

Novamente fomos almoçar na churrascaria do carioca e depois fomos para a passagem de som na estação cultural de Ferrocarril, local do nosso primeiro show internacional.

Chegando lá tudo já estava quase pronto e o palco ficou muito bonito com toda nossa estrutura. O lugar trazia recordações da gravação do nosso vídeo clip. Fizemos os últimos acertos nos arranjos de algumas músicas e passamos o som tocando nossas músicas pela primeira vez em solo estrangeiro. Só para dar uma animada na galera, chamamos o Daniel para uma conversa no palco e quando ele chegou começamos um dos melhores “quebra-quebra” já registrados nessa turnê, pois estavam os 8 malucos na embolada e, como já é de costume, o Aquiles destruiu outra camiseta, desta vez, a do imortal Buba. Ferrocarril, local do nosso show, é uma estação de trem construída em 1851 por engenheiros ingleses e está bastante conservada. Atualmente é um museu com muitas coisas originais da época como fichas de embarque, maquinário das locomotivas, telégrafos, dois vagões em perfeito estado de conservação e uma maravilhosa Maria Fumaça que estava estacionada atrás do palco, um lugar incrível! A galera assiste aos shows dos trilhos e das plataformas de embarque nas duas laterais.

Terminado soundcheck, todos foram para o jantar, somente eu voltei para o hotel para um descanso, pois não costumo comer muito antes do show.

Outra coisa muito interessante foi assistir aos desenhos animados em castelhano, nessa hora podemos ver como e porque, nossa dublagem é considerada uma das melhores do mundo.

A hora marcada para a saída do hotel para o show foi às 23:00h. Chegando ao local do show, ainda estava tocando uma das bandas de abertura, muito boas por sinal, fomos para o camarim e começamos nossos aquecimentos individuais. Aos poucos o lugar foi enchendo e na hora do nosso show o público já era de mais de mil pessoas. Com o nosso palco pronto, a casa cheia, era a hora de começar a tocar. Com um repertório todo baseado no CD novo, a banda entrou com muita garra e determinação, sendo avaliado por nós como nosso melhor começo de show, tudo deu certo. A resposta do público foi imediata, participando de todas as músicas com muita energia. Usamos as máscaras na música “Call Me In The Name Of Death” e, como é de costume, chamamos os vocalistas das bandas de abertura para uma jam session na música Tears of the Dragon, do Bruce Dickinson. Foi muito legal novamente e foi nessa hora que apareci com a camisa oficial da seleção de futebol do Paraguai. A galera foi ao delírio. No final o Aquiles colocou a máscara do psychopolvo para tocar a música Inside Your Soul, outro momento marcante.

Terminado mais um show, a nossa rotina continuava a mesma e era hora de desmontar tudo muito rápido porque não tínhamos muito tempo até a nossa volta para Foz do Iguaçu, agora num ônibus de linha “normal” (mas nem tão normal assim).

Depois de uma passada rápida pelo hotel para pegar as bagagens pessoais, fomos para a rodoviária comprar as passagens e cambiar a grana do cachê, guaranis por reais.

Quando era aproximadamente 5:30h da manhã o nosso ônibus encostou. Tínhamos tanta coisa amontoada na plataforma que todos ficavam olhando querendo entender aquele bando de loucos ali (nós, nesse caso).

Carregamos tudo e fomos para o fundo do ônibus, onde nossos assentos estavam reservados. Começamos a nossa viagem de volta mais tranqüilos, só que não sabíamos que ia ser um pinga-pinga da porra! O ônibus mais parava do que andava e, pra completar, começou a entrar gente de tudo quanto foi lado e se amontoar no corredor, deixando o ônibus completamente lotado e, pra ajudar, o motorista acelerava muito, mas muito mesmo, ultrapassando todo mundo feito louco na estrada. Nessa hora, achei que o Contrário estava lá na frente, junto com o motorista maluco.

Como se já não bastasse à lotação e a tensão pela velocidade, assim que clareou o dia, o filho da puta do motorista ligou um rádio muito alto, mais muito alto mesmo. Comecei a dar risadas e a bater em todo mundo, mas ninguém sequer se mexia de tão cansados que estavam. Ao meu lado estava o Bussano, que acordou revoltado e ficou o tempo todo tentando arrancar os fios do alto falante que estava bem em cima da gente. Também, tinha um guarda bem do nosso lado que ficava olhando e pensando “nem vou mexer com esse maluco, daqui a pouco ele quebra tudo”. Chegou uma hora que o cheiro do ônibus estava insuportável devido a todas aquelas pessoas amontoadas em cima da gente. Abrimos a nossa janela no máximo que podíamos. Dali a pouco, vem uma figura e manda a gente fechar por causa do ar condicionado. Beleza, aproveitamos e pedimos para ele abaixar o som também! Nada feito, o desgraçado aumentou o volume ainda mais e, o pior que ficava tocando música sertaneja, tipo Daniel só que cantando em castelhano, uma tortura sem fim! E nós, conseqüentemente, abrimos a janela de novo. Numa das paradas, lá vem o mesmo cara encher o saco de novo, só que ele não sabia quem estava ali… Bussano, “o desagradável”, que levantou e aos gritos falou para o cara: – mira amigo, pedi para usted abaixar lo sonido e você nada (nessa hora o Bussano já estava em pé dando tapas muito fortes no próprio pescoço), entonces, enquanto aquele loco não abaixar essa porra de sonido, eu não fecho essa janela – Só que nessa altura do campeonato, faltava apenas uma hora pra chegarmos em Cidade Del Este, mas o cara até desligou o som, depois dessa. Que viagem bizarra! Ah, e não parava de entrar gente vendendo coisas pra comer, gente com galinha, muamba e tudo que se possa imaginar.

Chegamos na rodoviária 5 horas depois de ter saído de Assunção. Descarregamos tudo do ônibus, colocamos numa outra van só para atravessar a ponte da amizade e, graças a Deus, sem problemas com a polícia federal. Nesse momento, acho que o “Contrário” estava fazendo umas comprinhas de Natal.

Chegamos à casa do Silvão, um amigo da banda, em Foz do Iguaçu, onde o carro do Aquiles estava guardado e almoçamos um maravilhoso churrasco.

Seguimos rumo à São Paulo com o Aquiles dirigindo, eu, o Buba, o Daniel e o Bussano, já que o Nando Mello e o Martinez seguiram direto de Foz para Porto Alegre e o Fábio que já tinha ido embora de Assunção mesmo devido a um compromisso.

O último trecho da viagem de volta foi um pouco mais tranqüilo, só pegando mesmo o cansaço de todos, principalmente do Aquiles que estava dirigindo. Eu tentava ficar acordado, mas meus olhos não conseguiam ficar abertos. Foi mais uma tortura!

Depois de 12 horas de estrada, chegamos a salvo em nossa cidade (São Paulo).

Descarregamos tudo às 5h30 da manhã e seguimos cada um para suas casas para o tão esperado encontro com nossas famílias. É muito bom voltar pra casa com a sensação de dever cumprido! Fizemos tudo isso em nome dos nossos sonhos e em respeito a todos que, de alguma maneira, se esforçaram para nos ver em suas cidades e, no final da história, tenho certeza que, por esse motivo, faríamos tudo de novo!

Muito obrigado a todos os fans, profissionais e amigos que se envolveram direta ou indiretamente nesses shows, valeu de coração!

Muito obrigado principalmente a Deus por ter nos protegido tanto em toda essa incrível jornada, nos dando a oportunidade de criar novos valores e de nos fortalecer ainda mais em busca de nossos objetivos.

Categoria/Category: Diário

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