Diário de Julho/2011
Postado em 11/08/2011


postado por Nando Mello

Goiânia e Jander Tattoo

Começamos nossa aventura de julho na cidade de Goiânia. Já havia estado em Goiânia por quatro vezes, sempre a convite do Pedro, da Hiccup Produções. Nas ocasiões anteriores, acompanhei o Aquiles em dois workshops e fizemos dois shows completos do Hangar no espaço Centro Cultural Martim Cererê. Desta vez fomos convidados para tocar na sétima edição do Tattoo Rock Fest, um festival que reúne tatuagem e muito rock´n´roll. Nosso show seria no sábado e chegamos a Goiânia na sexta-feira, com o intuito de aproveitarmos o dia inteiro para “marcarmos” nosso corpo antes do festival, já que durante ou no dia do evento seria impossível. Essa história começou há cerca de dois anos atrás, quando o Pedro apresentou o Jander Rodrigues ao Aquiles. Jander é um dos mais hábeis tatuadores brasileiros e tem um trabalho reconhecido e elogiado por todos. Sua especialidade é o biomecânico e o Aquiles acabou fazendo uma tattoo com Jander, que passou a fazer parte do nosso grupo de apoiadores. Chegamos ao hotel por volta das 8 da manhã. Após um café e um banho, seguimos em dois táxis para o Jander Tattoo Estúdio. Localizado no décimo andar de um elegante prédio em zona nobre da capital Goiânia, o estúdio é enorme, com várias salas. “Confesso que fiquei meio deslocado, afinal, não sabia como funcionaria o esquema de ‘tatuagem coletiva”, pois éramos cinco, eu, Fábio, Aquiles, Martinez e o Daniel Fernandes, nosso técnico de som, já que o Humberto chegaria à cidade somente no final da tarde e acabou perdendo a sessão. O Jander, acompanhado pela Ravana Souza, veio nos receber muito educadamente deu as boas vindas. O Aquiles já entrou na sala de tatuagem enquanto os demais ficaram na sala de espera conversando com as outras pessoas da equipe que iam chegando e se apresentando. Conforme decidíamos o que iriamos tatuar, a Ravana indicava a pessoa certa para o trabalho. Faziam parte da equipe a Rejane Olig, o Wilson Junior, a Lays Alencar, a Priscilla Lima e a Paula Dame. O Fábio foi o primeiro a falar em algum desenho estilo “maori extraterrestre” e prontamente o Wilson Junior se apresentou para o trampo. Naquela confusão de pessoas, ficamos discutindo sobre os desenhos e a Rejane Olig me ajudou, pesquisando algumas opções na net. Achamos o desenho e a Ravana e a Rejane me disseram que eu deveria esperar a Virginia Burlesque, outra tatuadora que estava vindo para ajudar no trabalho.

Martinez

Enquanto eu esperava a Virginia chegar, fiquei batendo papo com o Daniel e o Rodrigo. Fiquei só olhando de longe o Martinez que, bem como de seu costume, não se decidia quanto a sua tatuagem, ou seja, pra variar, até mesmo no seu desenho imperava a “confusão”. Ele queria alguma coisa “old school”, e foi a Paula Dame que chegou e tentou entender o que ele imaginava. O desenho era um rosto de uma mulher misturado com guitarra, violão e mais alguns detalhes… Até a “palheta do destino está lá”… Eu olhava e ficava com pena da Paula, que tentava dar o máximo para desenhar todos os detalhes…

O Daniel começou a procurar o seu desenho junto com a Rejane e já era quase meio dia quando finalmente a Virginia Burlesque chegou. Confesso que eu até estava pensando em desistir. Não estava muito a fim de sentir dor não. Mas logo percebi que a Virginia era uma pessoa bem positiva e me deixou bem à vontade quanto ao desenho. Ela prontamente me ouviu e saiu para desenhar o que seria a idéia dela para a “Ankh” que eu queria tatuar. As minhas duas tatuagens anteriores são um “Yin/Yang” estilizado com os elementos água, ar, terra e fogo e representa o “equilíbrio”. A segunda é o “H”, símbolo do Hangar e agora a Ankh, que se lê “anaqui” e significa o “símbolo da vida”. Tento manter um significado para as minhas tattoos já que elas irão me acompanhar para sempre. Nada contra quem queira tatuar golfinhos, estrelas do mar, cascudos e outras coisas… (huahuahu, piada interna), afinal estes desenhos também devem significar alguma coisa importante para a pessoa. No início da tarde fui para a mesma sala onde estava o Fábio com o Wilson Junior e começamos a sessão. Com certeza a apreensão é grande porque não podemos dizer que “não dói”. Realmente a dor, embora suportável, existe. Difícil esquecer a sensação do “álcool” entrando na sua pele depois de duas horas de tatuagem…hauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Enquanto o Fábio, Aquiles, o Daniel e eu já estávamos nas salas “recebendo tinta”, acompanhava de longe a Paula ainda tentando terminar o desenho do Eduardo. Enquanto a tarde passava divertíamos com as nossas “dores”. Como o meu desenho aparentemente era o mais simples e menor, ajudado pela paciência da minha tatuadora, pude circular pelas salas várias vezes apreciando as caras nada agradáveis de todos… Tatuar é um ritual. A concentração do tatuador na hora em que ele exerce a sua profissão é notória. Brincávamos nervosamente com nossas dores, mas os profissionais estavam lá focados. Às 16hh30 a Virginia terminou minha tattoo. O Aquiles não aguentava mais devido ao tamanho e ao local escolhido. O Fábio ainda iria ficar até às 23hs00, enquanto o Daniel já estava no final e o Martinez… Bem, o Martinez estava começando a primeira parte do seu desenho.
As 17hs seguimos para a loja da Harmonia Musical onde muito doloridos recebemos vários fãs e amigos como a Thais Sena que largou o trabalho no Santander pra ir até a Harmonia, rs, e a Layanne Cristine, nossa grande amiga de “twitter” e o Tiago Miranda, nosso velho conhecido e amigo. Às 19hs, enquanto alguns voltavam para o hotel, voltei junto com o Fábio, o Martinez e o Daniel para o Jander onde eles tentariam completar as suas tattoos. Saímos de lá às 23hs e apenas o Martinez e a Paula não conseguiram terminar, devido a complexidade do desenho “articulado” por eles…
Foi um dia cansativo, mas produtivo. Tive mais respeito ainda por estes profissionais que desenham na sua pele. Um grande abraço ao Jander, Ravana, Lays, Rejane, Wilson, Priscilla, Paula e a “fada” Virginia pela paciência. Quem quiser conferir o trabalho deles é só acessar www.jandertattoo.com

Tattoo Rock Fest

No outro dia, sábado, dia 02, o pessoal da equipe saiu cedo para montar nosso equipamento. Enquanto isso eu procurava uma farmácia que vendesse a pomada cicatrizante apropriada para os nossos desenhos. Depois do almoço fomos para o local do show. Um lindo e enorme local chamado Centro Cultural Oscar Niemayer, com um palco, som e estrutura incríveis. Na parte de fora do teatro ficavam os bares e a exposição com vários stands de tatuadores de todo o Brasil, além de roupas, máquinas, livros, tintas e afins. Era uma Expo Tattoo, na melhor concepção das palavras. Tentei acompanhar tudo, mas tive que evitar aquela demonstração em que as pessoas ficam penduradas por ganchos a alguns metros de altura. Foi demais pra mim, mas respeito os caras que fazem.

O show foi muito bom. Estávamos com uma energia boa e o clima de palco, som, luz e público ajudaram bastante. Encontramos novamente nossos amigos Tiago Miranda, Murilo Morais e Thais Sena. O Aquiles fez uma justa homenagem a todos os tatuadores que estavam presentes, em especial aos da equipe do Jander que foram prestigiar o evento e nosso show e encerramos a noite comemorando bastante e carregando nosso ônibus para a volta direto a São Paulo. Foi a quinta vez em Goiânia, mas pelo jeito vamos voltar rápido. A cada desenho você quer mais um na sua pele…

São José dos Campos

Dia 13, “Dia Mundial do Rock”, foi vez de irmos a São José dos Campos, cidade próxima a São Paulo. Como já disse em outros diários, tocar no SESC sempre é bom. É uma garantia de você ser bem recebido, qualidade de luz e som. Chegamos e fomos recebidos pela Suely Vieira, responsável pela contratação e programação musical do SESC da cidade. Ela faz um trabalho invejável. Muitos artistas nacionais já passaram pela cidade. Apenas dez dias antes o Flávio Venturini tinha realizado um show ali. O local escolhido para o show foi o Ginásio do SESC, ou seja, um lugar grande, o que nos deixou apreensivos. Seria um mais um “Anvil Day”? Passamos o som e pontualmente às 20hs00 nos dirigimos aos camarins. O show estava marcado para as 20h30 e eu sempre costumo ficar olhando o público. Era noite de quarta-feira com jogo do Brasil na TV, e mesmo assim mais de 400 pessoas compareceram e curtiram o show! Chegar em uma cidade que você nunca tocou e olhar diversas pessoas cantando as músicas da banda é muito gratificante. Sinal de que estamos crescendo como banda. No final batemos papo com todos e nos divertimos com a presença de vários amigos, como o João Duarte e a Marina, que saíram de São Paulo especialmente para o show, o vocalista Lean Van Hanna e o tecladista e fotógrafo William Vankar. Esperamos em breve voltar à região com muitas novidades.

Paraguaçu Paulista

Saímos de São José dos Campos por volta das dez da manhã e seguimos direto para Paraguaçu Paulista. Foi uma viagem longa onde mais uma vez não faltaram os diversos (mesmo!!!) capítulos de “Prison Break”, novamente. Lá pelas duas da tarde resolvemos parar para almoçar. O problema que a partir dessa hora é difícil arrumar um local na estrada. Estávamos no meio do nada e paramos em um local que vende artigos coloniais, mel, própolis etc… mas que servia almoço em marmitas porque o restaurante com ar condicionado já estava fechado. Não tivemos dúvida, banda e equipe, cada um pegou uma marmita e almoçou no pátio do local. Os dez bichos comendo sentados no chão em meio às pedras, com garfos e facas de plástico no maior esquema “rural brothers of metal”.

Chegamos a Paraguaçu na noite de quinta-feira, um dia antes do show. Fomos recebidos pelo Michel Inzaghi que nos levou direto ao hotel. Conheci o Michel e o pessoal de Paraguaçu quando tocamos em Presidente Prudente em maio, na Virada Cultural. Na ocasião ele me disse que nunca uma banda de metal esteve em Paraguaçu e que um dos sonhos dele era levar o Hangar.

Descansamos bastante e no outro dia cedo a equipe foi montar o equipamento em um lindo teatro na cidade. Ocupamos o dia com afazeres contratuais nos dois cartórios de Paraguaçu, o que rendeu ótimos momentos cômicos. O Aquiles não resistiu a uma placa que dizia “Protesto” e começou a discursar sobre alguma coisa que ele não gostava ou estava insatisfeito… Em cidade pequena, quando chega gente de fora todos ficam sabendo, então a confusão e o bom humor tomaram conta de repartições até então sérias como os cartórios de registros de Paraguaçu Paulista. A noite de sexta estava agradável e fizemos um show muito bom com a presença de muita gente da cidade e de cidades vizinhas como o Pedro Bertasso e a Vivian que vieram de Presidente Prudente para assistir o show e fazer uma entrevista exclusiva com a banda; o Cadu Newsted e o pessoal da TRZ Metal Tour, de Marília. Aliás, o Cadu tá nos enrolando até hoje… Cadê o show de Marília, Cadu? Parabéns ao Michel Inzaghi, um garoto de apenas 21 anos e com uma seriedade e profissionalismo a serem destacados. Não importa a idade ou a falta de experiência, quando a pessoa quer fazer ela faz e ponto final. Michel é uma prova disso. Saímos de Paraguaçu na manhã e seguimos rumo a São Paulo.

SESC Pompéia

Com o adiamento do Araraquara Rock fiquei uma semana na cidade de São Paulo e o Martinez foi para Mococa com o Fábio. O Aquiles está com uma nova sala de aula no Instituto Fabiano Manhas, na zona norte da capital, e aproveitamos para tocar um pouco e ajeitar algumas coisas por lá. Nesta semana recebemos o Inside Your Soul, que não tinha sido relançado desde a sua origem em 2001. Dez anos depois recebê-lo ali, novo, foi emocionante. Um grande período e um grande disco. Sempre falo que a música Inside Your Soul tem o baixo mais difícil de ser tocado em todas as músicas do Hangar. Tocar em São Paulo sempre traz um pouco de preocupação. Show na sexta feira, cidade grande, frio, etc. Mas como sempre tivemos uma resposta de público excelente com a casa cheia. É uma ótima oportunidade de rever os amigos de sempre além dos novos que sempre aparecem. Como sempre a Marina Dickinson e o João Duarte nos acompanharam. Nossa grande diretora de arte Vanessa Doi e a Carol Angeli. O César Pereira e sua mãe que nos acompanha sempre. As irmãs Pry e Damaris, a Simara Fiorelini e o Junior. Tivemos também o staff da Lady Snake em peso com a Sônia Paha, a Aninha Soncin e a Simone Borges e o Ralf Carlos, todos muito felizes e simpáticos. O grande batera Fabiano Manhas também esteve presente. No show o, Théo Vieira, nosso grande parceiro, nos acompanhou com o violão em quatro músicas.

O final da noite se aproximou e na madrugada fria de São Paulo havia uma sensação de despedida. Embora estejamos sempre em contato sabíamos que os próximos shows somente aconteceriam em setembro. Ao mesmo tempo as novidades e as expectativas para o segundo semestre não saíam das nossas mentes. Plantar, semear, colher fazem parte da vida desta banda… A busca continua e as novidades acontecem. Aproveito pra lembrar, mas de forma um pouco diferente, o que diz a canção daquela banda irlandesa/americana: “Wake me up when september BEGINS…”

Abraço a todos… Até o próximo episódio.

Nando Mello
Revisão e pitacos Fábio Laguna

Categoria/Category: Diário

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