postado por Fábio Laguna
Há muito tempo atrás, durante uma sessão de gravação que eu estava participando, em Valinhos, interior de São Paulo, comecei a reclamar da vida profissional, dizendo que esperava mais, e mais, que a situação era frustrante, etc… Então o técnico virou-se na cadeira e fitou-me seriamente, dizendo algo como: “Hey! Será que você não consegue perceber que o seu melhor momento é agora? Você vai entender o que estou te dizendo daqui a algum tempo”… Mesmo eu tendo guardado as palavras deles até hoje, elas soaram como aqueles manjados “ditados de auto-ajuda”, do tipo “viva um dia de cada vez”, “quem vive de passado é museu”, etc, etc, etc? Mas diante de todo o meu ceticismo, começo a dar o braço a torcer e simplesmente acreditar que toda essa baboseira aí em cima, fruto de décadas de sabedoria popular, é a mais pura verdade: somos a única espécie que acha que precisa de mais do que o necessário pra viver, que pensa no futuro, quando na verdade somos como qualquer outra, que só precisa comer e dormir, pois o resto é “lucro”.
Pois bem, a idéia e a curiosidade de se fazer uma produção em um local “completamente isolado” ou inusitado é algo que guardo comigo há muito tempo, inspirado em outras produções que foram muito felizes com essa escolha, como o Machine Head (Deep Purple) e o Blood Sugar Sex Magic (Red Hot Chili Peppers), entre outros. De um modo geral, sempre achei essa coisa de gravação em estúdios algo um pouco prejudicial ao processo criativo, pois nos tornamos reféns de seus “taxímetros”, da disponibilidade de horários e da falta de privacidade causada pelo entra e sai de outras bandas e pessoas. Daí, quando saímos de um estúdio, depois de horas de metrônomo e pressão na cabeça, damos de cara com o caos da cidade grande… É por isso que ultimamente tenho preferido gravar as minhas participações em outras gravações no aconchego do meu bunker (apelido que dei ao meu mini-home-estúdio-dispensa, em minha casa), onde fiz parte dos arranjos desse novo disco do Hangar. Masssss, como convencer os “urbanóides” da minha banda de que o isolamento seria algo muito benéfico? Bem, não sou um cara muito persuasivo, mas o fato é que não só consegui trazê-los ao ambiente rural para uma pré-produção, como acabamos gravando na “roça” um disco de heavy metal extremamente inspirado, que vai marcar uma nova fase na carreira do Hangar. Para a nossa felicidade, o sítio onde 80% do disco novo foi gravado ofereceu não só a privacidade extrema, como também as mesmas condições de qualquer outro estúdio, com a qualidade que a gente buscava para esse trabalho. Além disso, esse nosso semi-isolamento serviu para estreitar ainda mais o bom relacionamento entre os integrantes da banda porque, literalmente moramos juntos, algo que nunca havia acontecido no Hangar. E já que é costume comparar uma banda a um casamento, então digo que certamente o Hangar acabou de se casar. O mais importante dessa estada aqui em Tatuí foi que, como não tínhamos pra onde correr, tivemos que resolver nossas últimas pendências bobas, e isso refletiu muito nas composições do novo álbum: o amadurecimento foi natural e inevitável.
Por essas e outras razões, gostaria muito de reservar as minhas palavras nesses últimos momentos dessa produção aqui no sítio para agradecer a pessoa que foi responsável pela concretização desse sonho: Nino, nossa gratidão será eterna e esperamos um dia poder recompensá-lo à altura. Muito obrigado a você, a Neiva e toda sua família por ter nos acolhido durante esses três últimos meses. Em breve o novo álbum do Hangar será lançado mundialmente e temos a plena ciência de que boa parte do reconhecimento de nossos fãs, amigos e famílias estará intimamente ligado a esse apoio incomensurável de vocês.
Um grande abraço a todos!!!