A arte de desafiar os próprios limites… A arte de ser enganado pelo contrário… parte 1
Postado em 16/01/2008


postado por Aquiles Priester

Estava chegando à hora de ir para o campo de batalha… Na verdade já tínhamos ido para um belo aquecimento em Teresópolis, mas queríamos ver realmente quem agüentaria a PPD (pressão psicológica desnecessária), porque com a gente é assim, trabalhamos no limite até onde não precisa, só pra se fortalecer e não espanar… Espanar significa para nós, quem vai pedir para sair… Porca e parafuso tem rosca e quando um não agüenta, espana…

Tudo começou com uma bateria de ensaios em SP num estúdio onde montamos todo o equipamento como se estivéssemos no palco. Isso faz com que nossas referências no ensaio sejam as mesmas que temos ao vivo em nosso show. Outra coisa bem importante, é que não usávamos o ar condicionado para simular ainda mais o calor do Nordeste. Imagina o cheiro dessa sala, mas como já dissemos, tudo tem que ser suado…

Após três dias de 8 horas consecutivas de ensaios devidamente documentados através de fotos pela Raquel (Sra. Martinez) recebemos os apresentadores do programa Stay Heavy Vinícius Neves e Cíntia Diniz para um grande bate papo sobre os planos da banda.

Terminado essa parte fácil, começamos a desmontar todo o equipamento para colocá-lo pela primeira vez no nosso trailer e isso deu muito trabalho a todos. Tivemos que fazer muitos testes para acomodar tudo. Saímos do estúdio às 5h00 da manhã. O planejado era que a viagem começaria no dia seguinte às 15h00, com direção a Maceió em Alagoas. No entanto, para isso acontecer, acordamos todos bem cedo para buscar o restante do equipamento e ver os últimos detalhes do nosso transporte, já que a van que nos levou instalou um engate especial para puxar nossa carga, mais de 2,5 toneladas. Conclusão, depois de muita atividade só conseguimos sair de São Paulo às 8 da noite. A primeira parada só chegaria 40 horas depois e assim que entramos na van começamos a assistir todos os filmes que estavam disponíveis, e o primeiro deles foi o Tropa de Elite, só para ficar claro para todos que essa viagem não seria fácil… Até parece que alguém não sabia…

Viajamos por via terrestre para poder levar toda a estrutura de palco da banda e, dessa forma, fazer um show com maior qualidade visual e sonora. Ninguém sabia o que estava por vir…

Até Maceio foram 40 horas em que fazíamos de tudo para passar o tempo, até uma brincadeira chamada “banda com a letra?”, escolhíamos uma letra e começávamos a falar nomes de bandas com aquela letra, e o Nando sempre ganhava, mesmo eu colando da lista do meu laptop.

Todos vestiram roupas apropriadas para a viagem como bermudas, camisetas e chinelos, primeiro motivo para tirar sarro, pois não nos vemos sempre com esse visual. Aos poucos as brincadeiras pesadas foram aparecendo como quebra-quebra e empurra-empurra, sempre iniciadas por mim. Não importava a hora que a van fazia a parada, assim que o primeiro descia, já começava a espancar o próximo e assim se sucedia até o último. Toda banda entrava na roda e também a equipe técnica que era formada pelo Bussano, nosso coringa, também conhecido como “o desagradável”, o Daniel, nosso técnico de som, e o highlander Buba, além dos motoristas Léo e Flavinho, que logo apelidamos de Jaspion e Shazzan (coitados, os caras nem imaginavam onde estavam se metendo).

O Mello foi o primeiro a mostrar sinais de “espanação” pelo corpo… O pé dele ficou inchado, cheio de veias aparentes, tava igual um pão molhado, um legítimo pé de velho, seu apelido oficial… Nessa viagem o pessoal logo começou a acumular escoriações pelo corpo e sinais de inchaço devido às brincadeiras bruscas, entre elas tapas, bicas, chinelas, socos, montinhos além de uma série de outras que não podem ser citadas aqui…

Chegamos a Maceio depois de 40 horas de viagem e com um bom humor incrível e fomos logo para o quarto conferir todo nosso merchandising, ou seja, contar, listar e separar camisetas, adesivos e cds. Aqui no Hangar a gente trabalha o tempo todo, forever, forever, forever…

No dia seguinte fomos para uma tarde de autógrafos organizada na loja World Rock, na seqüência, para a passagem de som na casa de show Oráculo, um barracão antigo todo decorado muito legal.

O público participou de forma muito ativa na primeira aparição da banda na cidade e nós fizemos questão de fazer um show bem longo para agradecer essa energia.

No dia seguinte seguimos para Recife e chegamos lá às 22h00 e, como geralmente acontece, tivemos que trocar de hotel devido ao tamanho do nosso trailer, “mas quem disse que a vida é fácil…” (frase do filme Tropa de Elite).

No dia seguinte, devido ao uso do local do show para outro evento, a equipe técnica só conseguiu entrar para começar a montagem depois das 18h30 e, por causa disso, começamos um efeito cascata que só terminaria no dia 19/12, quando estaríamos chegando a nosso destino final, Assunção, capital do Paraguai…

Não teve jeito, a banda teve que meter a mão na massa para ajudar a equipe técnica e tudo aconteceu muito rápido e continuávamos a nos divertir. Isso é regra, pois tudo na banda é motivo para dar risada e tirar sarro… Geralmente estamos sempre bem atentos para não deixar nada na reta.

Chega à hora do show… Já conhecíamos o público de Recife e sabíamos o que esperar, e não nos decepcionamos. O publico participou ativamente de todo o show e virtude disso fizemos a apresentação mais longa da banda até então. A banda se emocionou com o coro da galera em músicas como To Tame A Land e Inside Your Soul. Outro momento marcante foi a participação dos vocalistas das bandas de abertura na musica Tears Of The Dragon.Terminamos o show com um grande astral e na seqüência já estávamos no meio do público para fotos, autógrafos ou simplesmente para bater um papo, uma verdadeira FESTA!

No final de tudo, fomos para o hotel? Claro que NÃO! Antes, ajudamos a equipe na desmontagem e carregamento, chegando ao hotel quase às 7h00 da manhã. De tão cansados, tinha gente vendo caveirinhas e caderudos pelos corredores. Às 8h30 a equipe chegou para um banho e já partimos para Aracaju. Dormimos na viagem e nem almoçamos para ser mais rápido… Chegamos a Aracaju às 17h30, depois de 500 km, o show estava marcado para as 17h00, ou seja, ao invés da banda ir para o hotel descansar, mais uma vez metemos a mão na massa para ajudar a equipe que também estava tão cansada como nós, quase espanando. Em tempo recorde estava tudo pronto e deu tempo de tomar banho antes do show que começou por volta dàs 22h00… Nessa hora aconteceu à primeira “espanação”… O Daniel mostrando as mãos tremendo chegou e disse: “Meu, desse jeito eu não agüento… É muita pressão…”. Logicamente caímos na gargalhada e já amontoamos em cima dele…

O público compareceu em peso e nos surpreendemos com a participação do mesmo. Quando tocamos a música “Call me in the Name of Death” percebemos que a galera já conhecia bem a música e geralmente essa é a hora mais emocionante do show, pois podemos ver as pessoas cantando e levantando as mãos para o Nando.

Termina o show e mais uma vez ficamos atendendo todos os fãs até todos saírem e novamente “carregamos corpos” para ajudar a equipe… Para variar fomos “enganados pelo contrário” (vocês ainda vão saber o que isso significa), é que faltou luz e tivemos que terminar de desmontar tudo na escuridão, com lanternas… Logicamente, assim que terminamos todo o trabalho, o “Murphy”, primo do contrário, foi lá e ligou o disjuntor e tivemos luz novamente… Tem coisas que só acontecem com a gente…

Só chegamos ao hotel às 5h30 da manhã junto com a equipe para um banho e pegar a estrada com direção a São Paulo e depois para Foz. Tínhamos 2000 km pela frente e não tínhamos nem tempo para dormir num hotel, pois se dormíssemos, não chegaríamos a tempo em São Paulo, Foz do Iguaçu e muito menos ao Paraguay… Nunca ficamos tanto tempo numa van… Vários quebra-quebras rolaram para nos divertir e só chegamos em São Paulo depois de 45 horas de viagem e com um atraso de 6 horas, devido a um desastre com duas carretas que bateram de frente, cem metros a nossa frente, uma carregada de mangas e a outra com bebidas. É impressionante como aparece gente de todo lado pra pegar a carga, e eles são organizados, já começam a empilhar as caixas na beira da pista e falam ao celular pedindo reforço para carregar, até parece que já sabiam que tudo aquilo ia acontecer. Foram muitas horas de agonia, tanto para quem estava vendo os motoristas serem retirados do meio das ferragens, como para nós que estávamos com o tempo mais do que apertado e naquele momento, muito atrasados. Liberada a pista logo estávamos na estrada novamente, com nossos motoristas completamente espanados, graças a Deus só paramos em São Paulo.

Chegamos às 21h00 de terça-feira dia 18 e precisávamos estar em Foz do Iguaçu (que fica há 1200 km de SP) até as 12h00 do dia 19… Tínhamos tempo suficiente…

Tiramos o equipamento do trailer e carregamos o carro (uma pick up) com as bagagens mínimas e conseguimos sair às 11h30 do estacionamento. Passamos na casa do Nando, colocamos sua mala embaixo da lona e fomos embora pela rodovia Castelo Branco… Novamente fomos “enganados pelo contrário” De repente o Fábio falou para olharmos a lona do carro, que parecia solta e ver se estava tudo bem… Demorei um pouco para aceitar até avistarmos um posto e parar… Foi quando vimos que a mala do Nando tinha caído na estrada, ou sabe lá onde, com toda sua bagagem e isso incluía as roupas normais, as roupas do show, calçados, objetos pessoais de higiene, uma pasta com todas as letras do show etc… O Nando não acreditou quando viu que aquilo tinha acontecido – a gente estava preste a conhecer o Contrário, aliás, ele já estava com a gente faz tempo, só faltava a gente perceber. O Nando o Martinez saíram correndo na contra mão pela rodovia para ver ser achavam alguma coisa… Eu e o Fábio fomos de carro encontrar algum retorno e o Mello ficou lá coçando o saco, cuidando do seu pé inchado e torcendo pra tudo aquilo acabar logo, pois tínhamos muito chão pela frente. No meio do caminho o Nando me liga e diz que um caminhoneiro falou que passou em cima de uma mala há uns 20 km para trás, isso porque estávamos no km 107 da rodovia Castelo Branco, e o caminhoneiro disse que atropelou umas roupas no km 80. Achamos um retorno e começamos a voltar bem devagar e com os faróis altos pra iluminar toda a pista foi ai que…

Categoria/Category: Diário

TOP