Vinte e nove dias, treze shows, três workshows e treze mil quilômetros depois…
Postado em 11/09/2010


postado por Nando Mello

Vinte e nove dias, treze shows, três workshows e treze mil quilômetros depois…

Todas as vezes que precisamos fazer um diário sempre temos um pequeno impasse sobre quem irá começar. Desta vez foi diferente. Acho que impulsionado pela minha décima, ou vigésima, vez que leio “On The Road”, de Jack Kerouac, tomei a frente impulsionado pela escrita sem destino dos velhos beatniks, que não poupavam palavras e não se preocupavam com vírgulas para descrever em uma frase todas as emoções de viver na estrada a caminho do leste em um carro velho, de cor azul da cor do mar. Longe de ter a pretensão de comparar-me a um destes mestres, usei uma linguagem simples para falar de 10 pessoas e 16 toneladas na estrada. Quando sonhamos em ter uma banda ou não fazemos parte de alguma temos a impressão de que tudo não passa de subir no palco e tocar, o que é um ledo engano porque a verdade é absolutamente outra. Sentir na pela a emoção da produção, das viagens, da estrada, das características de cada pessoa não tem preço e tempo. A lembrança e as memórias vão muito além de uma simples foto em um site de relacionamento. Elas ficam para sempre na retina de quem as viveu.

Primeiro dia – Encontro e ensaio em São Paulo

A banda se encontrou em São Paulo na segunda feira, dia 02 de agosto. Enquanto eu seguia de Porto Alegre, o Martinez, Humberto e Aquiles já estavam na cidade. O Fábio chegou ao meio dia e fomos direto para o estúdio Mr. Som, onde em uma tarde ensaiamos algumas músicas que achávamos interessante recordarmos. Uma das antigas foi “Falling in Disgrace” do Inside Your Soul, além de alguns covers que relembramos como a “Dreams”, do Van Halen e uma música muito especial para mim, chamada “Limelight”, do Rush. Esta música estava na agenda desde 2003. Gostamos demais do Rush e sempre existiu um extremo respeito pelas músicas desta banda, o que fazia com que tomássemos cuidado para a escolha de uma homenagem para eles. “Limelight” caiu como uma luva. A noite o Infallibus chegou de Mococa com o nosso motorista o Fábio “Didi” Conceição e o nosso novo vendedor de merchandising, o Jefferson, mais conhecido como “Pirulão”, pela sua altura e uma habilidade de comunicação ímpar, o que fez a gente duvidar da sua real capacidade de suportar esta viagem… Estaríamos certos? Contamos todo o nosso merchandising na casa do Aquiles, onde já estava o nosso roadie de bateria Lucas “Tankão” Medina, que veio direto de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Na mesma noite saímos em direção a Santa Catarina.

Segundo dia – Casa do Maliska

Por volta da uma da manhã encontramos o restante da equipe, o Daniel “Pepe” Fernandes e o nosso novo roadie de cordas e teclas, o Bóris Pinheiro, que acabou sendo chamado de Clóvis, Casói ou qualquer outra coisa que não fosse o nome dele durante toda turnê. Antes da viagem nos preocupamos em fazer um roteiro. Não dava pra confiar na “Malu Magalhães”, o GPS que o Fábio leva sempre, mas que já nos meteu em algumas confusões. A expectativa era grande e nos munimos de muitos, mas muitos DVDs mesmo. Acho que um dos primeiros que vimos foi “De olhos bem fechados (Eyes Wide Shut) de Stanley Kubrick, com Nicole Kidman e Tom Cruise. Uma soturna história de amor, traição, suspense e uma trilha sonora que fixou na nossa cabeça por dias, embora ela tenha somente duas notas. Durante a viagem para o sul encontramos uma enorme massa de ar polar que nos fez congelar. Todos estavam com poucas roupas para o frio, visto que na maior parte do mês estaríamos no Nordeste. Almoçamos em um restaurante no interior do Paraná um típico churrasco gaúcho com muita costela sob um frio de 4 graus. O Jefferson Pirulão já registrava tudo com a sua câmera enquanto falava por todos os cantos sobre a maneira fácil que seria trabalhar com o merchandising… Mal sabia ele da encrenca em que estava se metendo. Por volta das nove da noite chegamos à cidade de Capinzal, no interior de Santa Catarina, onde encontramos o nosso querido amigo Felipe Maliska e sua família que, como sempre, nos recebeu de braços abertos. Viajando o Brasil todo temos a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que estão sempre dispostas a ajudar a banda. Jantamos e depois de alguns momentos de empolgação fomos dormir sob um frio de um grau positivo, embora a sensação térmica fosse de menos dez. Como sempre a banda dormiu na casa e a equipe ou os “bichos”, como eles se autodenominaram no chalé a uns 100 metros de distância onde com certeza fazia bem mais frio. Ossos do oficio.

Terceiro dia – Teatro Alfredo Sigwalt

No dia 04 de agosto nos dirigimos à cidade de Joaçaba, onde no maior Teatro da cidade fizemos o primeiro workshow da banda. Além do frio, choveu o dia todo. Fomos a loja patrocinadora do evento, a Calliari Musical, onde fomos recebidos pelo Duda, o grande incentivador deste show. Já na chegada ao Teatro, que por sinal é lindo, as primeiras dificuldades apareceram. O equipamento teria que subir por uma escada em curva. Esta questão de descarregar o equipamento do ônibus nos atormentou a viagem toda. É difícil conseguir pessoas dispostas a descer e subir 4/5 toneladas de equipamento para a realização de um evento. Por mais que pedíssemos aos contratantes, somente em alguns lugares a situação foi confortável. Várias vezes a nossa própria equipe fazia o serviço, deixando-os bem mais cansados do que de costume. Tocar em um teatro é sempre uma experiência diferente do que um palco comum. As pessoas ficam sentadas e até querem participar mais, porém são inibidas pelo próprio ambiente diferenciado, o que produz uma sensação de glamour ao evento, diferente, porém muito legal. Como sempre o Aquiles começou o evento, depois entrei com o baixo. Na seqüência o Martinez e o Fábio e depois o Humberto completando a banda. Falar em público é uma proeza e um dom que nem todos possuem. Não estávamos muito acostumados a este formato e com exceção do Aquiles que possui bastante experiência com este tipo de evento, o restante da banda meio que deixou a desejar, principalmente nosso amigo Martinez que teve um dos seus pontos altos na sua explanação sobre o equipamento que usava. Tudo com muito bom humor como sempre. Nada muito grave, mas serviu de experiência. Ainda tivemos a presença do programa Espaço Livre do nosso amigo Juliano Zampieri, da TV Cidade, para mais uma matéria exclusiva sobre a nossa passagem na cidade. No final atendemos a todos e ainda chovia.

Quarto dia – Curitiba

Saímos de Joaçaba para Curitiba onde tocamos em uma das maiores lojas da cidade, a ZeroDb. O local para variar era de difícil acesso, mas conseguimos estacionar o ônibus no pátio de uma igreja e lá ele ficou até o final do evento, ocupando vagas dos fiéis que chegavam para o culto das 19hs. Curitiba talvez seja a cidade onde mais tocamos nos últimos três anos. Nossos amigos de sempre estavam lá: Lexus, Cris Helen, Dani e Alex; para prestigiar e o evento ocorreu normalmente, mas sempre envolto com várias brincadeiras e muito bom humor. Neste dia tocamos pela primeira vez a música “Limelight”, do Rush.

Quinto dia – River Rock – Indaial e a trapalhada do Bóris

Como moro no Rio Grande do Sul, já tinha ouvido bastante a respeito dos festivais de metal e rock em Santa Catarina mas o que encontramos em Indaial realmente nos chamou muito a atenção. Saímos cedo de Curitiba e ainda antes das dez da manhã encontramos o Adílson e a Rejane, que são os organizadores do festival. Fomos até o motódromo da cidade e ouvimos a história do festival dentro da Kombi estilizada do Adílson que representa o verdadeiro espírito deste festival com cara de Woodstock do metal catarinense. Ficamos à tarde na casa do Adílson, onde conheci a sua Mãe, a qual infelizmente não lembro o nome, mas que me divertiu com as suas histórias sobre os 25 anos que trabalhou para o governo no Rio de Janeiro e Brasília como diplomata. Um verdadeiro achado histórico dos tempos da ditadura no nosso país. Falar sobre isso hoje é tão antiquado quanto falar sobre dois séculos atrás, mas fez parte da nossa história recente. Foi uma lição de vida. Sobre o festival nos contaram que os órgãos públicos não movem um centímetro para o sucesso do mesmo, bem pelo contrário tendem a atrapalhar. Segundo o Adílson este seria o último River Rock, o que seria uma lástima. Não conseguimos entender como a prefeitura de Indaial não se mobiliza para apoiar. É uma ótima vitrine para o Brasil todo e a arrecadação com turismo e geração de receita para os comerciantes locais seria interessante. Coisas do Brasil, certamente. Um dos políticos da cidade chegou a dizer que “eles não queriam gente deste tipo na cidade”. Fiquei imaginando que tipo de gente ele se referia, meninos e meninas que gostam de preto, metal, rock, que se divertem no auge da vida, músicos com anos de estrada, novas e velhas bandas??? Tão absurda aquela frase soava em nossos ouvidos que tivemos vontade de conhecer o cara e tirar isto a limpo. Quanta hipocrisia e ignorância reunidas em uma só frase. Esperamos que essa não seja a última edição do River Rock e até falei para o Adílson que voltaríamos para ser a atração principal novamente no ano que vem. Vamos ver. O show foi muito bom com o público participando muito, acho que havia umas 1500 pessoas e pudemos perceber o tanto de adeptos que o Hangar conquistou em Santa Catarina. Vamos voltar muitas vezes com certeza. Uma das coisas mais engraçadas da tour aconteceu aqui. Nosso novo roadie das cordas e teclas, o Bóris Pinheiro ouviu atentamente as ordens do Aquiles de que não queria ninguém no palco na hora do nosso show, visto que em festivais a tendência é que muitas pessoas entrem no palco e acabem atrapalhando o bom andamento da apresentação. Lá pela terceira ou quarta música o Aquiles e o Humberto começaram a procurar o Bóris porque queriam água e nada dele aparecer. Lá pela sétima, oitava música ele apareceu depois de tanta gritaria. No final do show a explicação: ”Ué, vocês disseram que não queriam ninguém no palco, eu me mandei”… Santo Deus, cada um que aparece… Infelizmente tivemos que deixar a área do evento às pressas porque tínhamos um workshow marcado para Congonhas, em Minas Gerais, no dia seguinte. Teríamos que percorrer mais de mil quilômetros ininterruptos para chegar a tempo. Todos lamentaram em deixar aquele clima e eu mais ainda por ter me identificado muito com a atmosfera bucólica do festival. O River Rock deixou saudades em todos.

Sexto dia – Pneu que explode e a paciência da galera.

Saímos de Indaial às duas da manhã em direção a Minas Gerais, onde tínhamos um evento marcado para as 19hs30. Às 3hs30 da manhã, quando praticamente todos dormiam, ouvimos uma explosão. Um dos pneus traseiros havia explodido praticamente levantando o ônibus no ar. A explosão foi tão forte que destruiu um dos ventiladores do gerador, no outro lado do ônibus. Naquela altura na madrugada foi impossível arrumar uma borracharia aberta que pudesse nos dar apoio. Andamos por cerca de 4 horas na velocidade de 40 km/h até encontrarmos uma borracharia que tinha um pneu usado similar ao danificado. Para chegar a Congonhas em 18 horas de viagem atravessamos Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro até chegarmos a Minas Gerais. O Didi dirigiu muito rápido neste dia e foi a última vez que isso aconteceu devido aos riscos e ao consumo de combustível do ônibus. Depois de todo este atraso chegamos a Congonhas às 22h30min. O público já estava o esperando por três horas. Montamos o equipamento em tempo recorde e à meia noite iniciamos o workshow, que se estendeu até as duas da manhã. Mesmo com todo o atraso as pessoas esperaram e tiveram a programação completa, que era o mínimo que poderíamos ter feito. Com tudo atrasado a janta aconteceu lá pelas 3 da manhã. Foi um dia e noite de superação.

Sétimo dia – Descansar que nada, BH nos espera

Nosso show em Belo Horizonte foi marcado para o Hard Rock Cafe, um excelente local para nossa volta à capital mineira. Ficamos admirando os quadros do lugar, muito material de bandas como Kiss, Guns´n´Roses, Motley Crue e várias outras. A casa abria para o almoço ao meio dia, então tivemos que montar e passar som ainda pela manhã. Aqui tive um momento de muita sorte… Caminhando pelo pátio do local encontrei enrolado em um dos cantos de um vaso de flores a quantia de R$ 200,00 em notas de 50,00. Nunca havia encontrado dinheiro na minha vida toda e agora tive este momento. Com certeza alguém na noite anterior havia tomado “todas” e deixou cair o dinheiro no recinto. Fiquei esperando que fosse alguém da nossa equipe, mas perguntei a todos e nada, não tinha dono. Não havia ninguém no local, não houve reclamações durante o dia todo e acabei ficando com a quantia, fazer o quê? Devolver para quem? Encontramos nosso anfitrião, o João da Cogumelo Records, que completava 30 anos nesta data e a quem agradecemos o convite por fazer parte desta festa tão importante. Após a passagem de som fomos para o hotel descansar. Na recepção uma pequena confusão devido a um depósito adiantado das diárias. Voltamos ao Hard Rock às 19hs para o show. Encontramos a casa lotada e a recepção calorosa das pessoas com as camisetas do Hangar acompanhando as letras das músicas novas e antigas. Ficamos até tarde conversando com todos os fãs, inclusive com a Jackie e sua tatuagem de “H” no pulso. Um grande show em um grande lugar para um grande público. Obrigado Minas Gerais.

Oitavo, nono e décimo dias – Para chegar ao Nordeste

Saímos de BH na segunda feira, dia 9 de agosto, às 9h da manha. Nosso planejamento de viagem incluía a ida até São Luís no Maranhão em três dias. No primeiro dia seguimos pelo interior de Minas Gerais atravessando o que eu acredito que seja um tipo de sertão mineiro. O ar é muito seco e estranhamos com a garganta seca e irritação no nariz. Passamos por Brasília no final da tarde e chegamos a Goiás no final da noite, onde paramos em um posto de combustível para descansar. Por volta das 6 da manhã o Didi acordou e seguimos viagem após o café da manhã. Sabe aquelas coincidências do destino? Às vezes elas acontecem… Tenho um casal de tios que se aposentaram há certo tempo. Meu tio, depois de 35 anos de serviços prestados e já aposentado, resolveu aceitar uma proposta de uma empresa gaúcha com filial no estado de Tocantins. Eles mudaram para lá há cerca de dois anos. Assim pude planejar uma visita a casa deles em Paraíso do Tocantins. Coisas estranhas e irônicas… Depois de passar a vida toda morando a cerca de cinco quilômetros da casa dos meus tios, fui reencontrá-los a 2.500 quilômetros de distancia. Chegamos a Paraíso do Tocantins as onze da manhã e o “Tio” Telmo e a “Tia” Dalva já estavam nos esperando com um almoço, ou melhor, um churrasco! Passamos uma tarde agradável na casa deles onde todos puderam descansar um pouco, inclusive tomar banho e lavar as roupas sujas de nove dias de vagem. A exceção foi a recontagem de todo o merchandising, visto que o Jefferson “Pirulão” havia perdido as contas de algumas peças, o que fez com que o Aquiles ficasse muito bravo com o acontecido. Uma daquelas merdas que podem colocar em risco um momento que era para ter sido mais divertido, principalmente para mim. Acho que precisamos aprender a não sermos tão honestos consigo mesmo. Existe hora e momento para certas cenas e palavras, mas, como sempre, eu respeito a integridade de cada um que está na gig, seja integrante da banda ou equipe. Nossos anfitriões curtiram a passagem da banda pelos confins de Tocantins e me presentearam com a notícia de que estão voltando para o Rio Grande do Sul no final deste ano. Que bom, a família está com saudades. Saímos de Paraíso às 22hs e seguimos viagem madrugada adentro até a divisa do Maranhão onde dormimos. Por indicação de pessoas na estrada resolvemos não cruzar a divisa do Tocantins com o Maranhão porque a estrada corta uma reserva indígena e é muito perigoso transitar por lá durante a noite. Às seis da manhã seguimos viagem. Passamos o dia atravessando o estado Maranhão e no inicio da noite de quarta feira, dia 11, chegamos a São Luís. Encontramos nosso amigo Nyelson na entrada da cidade e fomos direto ao hotel. Para variar o local não era apropriado e não havia estacionamento para o ônibus. Tivemos que procurar outro lugar e acabamos achando um hotel próximo à praia, próximo de onde ficamos em 2003. Cheguei a tempo de ver o Inter virar o jogo na partida de ida da final da Libertadores da América e comemorei muito a vitória sobre o Chivas por 2×1 no México. Fomos jantar na companhia de nossos grandes amigos Nyelson, Nynrod e de Dynamark, mais conhecido como “Ribamar”, e depois nos recolhemos para descansar, eu mais feliz com a vitória do meu time…

Décimo primeiro dia – Quinta feira é dia de metal?

O show de São Luís, produzido pela Vibe (Nyelson,Nynrod e Dynamark), somente aconteceu porque eles aceitaram a noite de quinta-feira para realizar o evento. Geralmente, e por razões óbvias, todos contratantes preferem as sextas ou os sábados, mas por questões de logística seria impossível estar em São Luís na sexta e sábado em Fortaleza. Eles entenderam isso e passaram a trabalhar, e bem, a noite de quinta para o show do Hangar. Pela parte da manhã estivemos na retransmissora do SBT na cidade para participar de um programa ao vivo onde tocamos “Solitary Mind”. O show foi no Circo da Cidade, que é realmente uma lona em formato de circo, um espaço cultural da Prefeitura de São Luís. A energia elétrica do local deixava a desejar, causando um pequeno grande transtorno, principalmente quando o nosso engenheiro de som Daniel levou um choque quando colocou a mão na parte de trás da mesa e caiu sentado, atordoado com o choque. O show chegou a correr algum risco, mas felizmente o circo tinha um eletricista que resolveu o problema. Entramos no palco as 23hs30 e mandamos o show para cerca de 400 pessoas. Muitas camisetas e músicas cantadas pela galera nos alegraram muito. Nossa primeira etapa no Nordeste com o Infallible foi surpreendente, com um público expressivo e muitos fãs. Voltamos ao hotel depois de atender a todos no merchandising e com o sentimento de que o restante das datas no Nordeste seria um sucesso. Parabéns ao Nyelson e ao Dynamark (Ribamar), que souberam trabalhar muito bem o evento na quinta feira.

Décimo segundo dia – Teresina e o calor

Saímos do hotel em São Luís por volta das oito da manhã e seguimos viagem para Teresina, atravessando o estado com um calor de quase 40 graus. A paisagem já era de sertão mesmo e as paradas pelos pequenos vilarejos são uma aventura gastronômica. Chegamos a Teresina por volta das duas da tarde e a equipe ficou na casa de shows montando o equipamento enquanto íamos almoçar e depois para o hotel. Lá Conhecemos o Marcelo que seria o responsável por este show e pelo de Fortaleza. O “Bueiro do Rock” em Teresina é um lugar perfeito para a realização de shows, pois conta com uma estrutura bacana, até mesmo para a hospedagem das bandas. Nesse dia a prefeitura estava promovendo um evento gratuito de rock no centro da cidade. Assim, o público foi um pouco menor do que a primeira vez que estivemos na cidade, em 2003. Mas o show foi animado e a galera ficou até o final para as fotos e o bate papo com todos. Em Teresina encontramos nosso grande amigo e fã Jesus que nos acompanhou pela a madrugada, lembrando de nossa primeira passagem por Teresina em 2003. Ficamos até altas horas lembrando as nossas aventuras em Teresina há sete anos.

Décimo terceiro, quarto, quinto e sexto dias – Ceará in Rock, Workshop e a casa da Michely.

Saímos de Teresina na madrugada rumo a Fortaleza. No caminho, a Trans Piauí, uma estrada de 500 quilômetros em péssimo estado de conservação, atravessando o sertão cearense sob um calor de 40 graus à sombra. Pequenos vilarejos com casas de barro e rios e riachos sob pontes totalmente secos nos levaram a uma realidade dura que provavelmente tínhamos visto somente pela televisão. Realmente a divisão de renda no nosso país é um problema. O velho estigma do coronelismo é visível nesta região do país. O Ceará tem um significado especial para nós por ser o estado onde mora uma das nossas maiores colaboradoras e amigas, a Michely Sobral, uma das pessoas que mais ajudou o Hangar e o Aquiles em especial por sua atenção a tudo que fazemos no decorrer destes últimos anos. Ela sempre nos cobrou uma passagem por Fortaleza e nunca tínhamos conseguido fechar uma data, não por falta de interesse nosso, mas logística mesmo. O Ceará in Rock, organizado pelo Marcelo da empresa In Cartaz, está em sua terceira edição e contou, além do Hangar, com Paul Di´Anno e mais quatro bandas locais. Chegamos cedo à praia do Futuro onde o evento seria realizado. Descarregamos o equipamento e o Lucas começou a montar a bateria. Todos sabem que implantamos um modelo inédito de produção na cena metal, já que carregamos nosso equipamento Brasil afora em um ônibus próprio. O esforço para colocarmos isto em prática é incalculável no nosso ponto de vista. E a razão disso tudo é levar um som impecável para as pessoas que comparecem a um show do Hangar, além de promover o nome da banda. Isto é regra e não há exceção, ou seja, não importa quem esteja dividindo o palco conosco. Sendo assim fazemos valer o que pensamos, o que resume tomar parte do palco para que tudo funcione bem. Isto parece que não agradou a outra banda principal do festival que, por conforto ou necessidade, tocaria com equipamento local, ou seja, o que tivesse disponível no evento. Houve um pequeno embate entre a nossa equipe e a outra equipe, mas fincamos o pé e levamos tudo o que os fãs teriam direito. Lógico que sempre tem retaliação e meu equipamento de baixo foi danificado e não tivemos tempo de consertá-lo. Como conseqüência o camarim que deveria ser dividido entre as duas bandas foi deixado para trás para que não houvesse mais problemas, já que o famoso cantor inglês bufava de raiva lá dentro. Depois tudo se acalmou. Fomos para o hotel descansar e voltamos somente na hora do show, as quatro da manha. Isto mesmo: começamos a tocar as 4hs30 da manhã e o público estava lá esperando. Foi emocionante ver tantas camisetas do Hangar em Fortaleza. Fim de festa sempre é um problema. Já rolavam mais de 9 horas de festival e os ânimos estavam acirrados. Uma pessoa tentou subir no palco e a segurança o retirou, ou melhor, empurrou de uma altura de cerca de 2 metros. O cara machucou a perna , xingou, jogou cerveja no teclado do Fábio e tivemos que parar o show. Pela primeira vez em 13 anos isso aconteceu, uma pena, mas no final do show o rapaz estava lá e todos nós comemoramos juntos mais uma noite de metal. Só um susto. Fortaleza infelizmente ficou marcada como a primeira cidade onde tivemos um “incidente”, mas isso faz parte dos “shows de rock”. Fomos novamente para o hotel descansar enquanto a equipe desmontava tudo. Já eram nove da manha. As 10hs30, a equipe toda virada, sem dormir, seguiu para o centro de Fortaleza onde a noite o Aquiles faria um workshop de bateria para o Instituto Bateras Beat da cidade. As 14hs o Edu do Bateras Beat foi nos buscar no hotel para almoçar. Nesse ínterim, o Aquiles descobriu que todos os playbacks que ele utiliza para fazer um workshop haviam sumido do seu IPod. Assim ele convidou a banda toda para acompanhá-lo nesse evento, caso contrário, o workshop contaria apenas com a bateria e o metrônomo. Chegamos por volta das 16hs no local do evento para passar o som. Encontramos novamente a Michely e sua irmã a Tayana. O workshop foi um sucesso, a banda toda tocou e o público compareceu em massa. O casal Edu e Cláudia, do Bateras Beat de Fortaleza, nos receberam muito bem. Sucesso a eles. Tínhamos até quarta pela manhã para ficar em Fortaleza. Conseguimos um hotel/pousada próximo ao Dragão do Mar, que é um complexo turístico cultural na praia de Iracema. Próximo também fica o Mercado onde em 4 andares encontramos todo o tipo de recordação e artesanato cearense. Um lugar para se perder e para gastar. Precisei me controlar para não acabar com a grana. Era a segunda vez que ia até o local, a primeira foi em 2003. À noite fomos jantar na casa da Michely, ou melhor, em uma pizzaria perto da sua casa. Na terça, dia de folga para a maioria da banda, o Aquiles o Humberto e eu fomos até uma loja chamada Planet, na Galeria do Rock, no centro de Fortaleza. À noite encontramos novamente a Michely para a despedida final com uma janta no Dragão do Mar. Ficamos jogando conversa fora até umas 10 horas da noite. O Humberto e o Didi saíram para procurar um estacionamento para o Infallibus e voltaram tarde, mas tudo correu da maneira prevista.

Décimo sétimo dia – Natal aí vamos nós e o futebol que não chega.

Aquele era um dia especial, pois haveria a final da Taça Libertadores da América e o meu time, o Inter precisava somente de um empate para ser campeão. Falei a todos que gostaria muito de chegar a tempo de assistir o jogo em Natal. A previsão de saída de Fortaleza era para meio dia, mas devido a vários atrasos acabamos saindo mesmo por volta das três da tarde. A estrada ia passando e não chegávamos nunca a Natal. A hora do jogo se aproximava e nada de chegar. O Fábio “Didi” nosso motora tem uma pequena televisão que me salvou. Embora o chuvisco da imagem atrapalhasse, pude assistir uma parte do jogo que estava 1×1 até o momento. Chegamos a Natal e fomos recebidos pelo Delano e pelo Glenn que nos levaram até uma pousada na praia de Ponta Negra. Finalmente encontrei uma televisão com imagem legal e pude ver a vitória de 3×2 e a festa final do título. Na manhã seguinte eu já estava com a camisa do Inter, o que irritou alguns integrantes que não sabem o significado que isto tem para mim. Comemorei muito e fui dormir bem tarde conferindo todos os detalhes da festa enquanto recebia e fazia ligações para os amigos colorados que comemoravam em Porto Alegre.

Décimo oitavo dia – Workshop do Aquiles em Ponta Negra e o grande erro do “Pirulão”.

Quando você está em um lugar como a praia Ponta Negra em Natal é difícil concentrar-se no trabalho. Sempre que temos pessoas novas na equipe existe a preocupação de tentar colocá-la dentro do nosso ambiente de trabalho, mas também há toda uma preocupação para que ela enlouqueça rapidamente e peça pra sair, ou seja, um tremendo esforço físico e psicológico que o cara tem que se submeter para entender como o Hangar trabalha. Aqui sentimos a primeira recaída do Jefferson, nosso vendedor de merchandising, que chegou dizendo que ia dar conta do recado e do trabalho. Com o evento marcado para as 19h30 chegamos às 18h para passar o som e arrumar os últimos detalhes. Nada do Jefferson chegar para montar a “loja”. Lá pelas 19h ele chegou e às pressas começou a abrir os cases de merchandising, com todas as desculpas previstas. O Jefferson é um cara inteligente, mas em um grupo onde temos muito mais experiência ficou difícil pra ele segurar a onda. Ele carregava uma máquina digital o tempo todo registrando os seus momentos e quando a máquina chegava ao limite ele me pedia para descarregar as fotos no meu notebook. Lógico que eu sempre olhava as fotos e conferia os seus passos dia a dia. Quando ele falava onde estava e geralmente tentava me enrolar eu sempre dizia que sabia onde ele havia estado em tal dia. Lógico eu tinha as imagens de todo o roteiro dele. Ele custou a perceber isto e eu me diverti muito pegando no pé dele, mas de leve porque quem batia de frente mesmo era o Aquiles. O workshop foi realizado em um rock bar bem localizado, perto da praia e sem dúvida foi um sucesso. Tive a oportunidade de participar tocando algumas músicas do Hangar e por último realizar um dos meus antigos desejos de tocar uma música do Rush. Sim estamos tocando Limelight, um clássico desta banda canadense. Em Curitiba a banda toda tocou, mas em Natal usamos os playbacks da voz do Geddy Lee e da guitarra do Alex Lifeson nos acompanhando. Foi uma satisfação e uma realização. Atendemos a todos os presentes como sempre fazemos e fomos dormir já bem tarde ouvindo o som do mar na praia de Ponta Negra. Sensacional.

Décimo nono dia – Galpão 29 em Natal

O Galpão 29 fica em uma área antiga do centro de Natal. Para chegar lá passamos pelo litoral da cidade em uma via expressa cheia de hotéis e prédios com apartamentos avaliados em mais de milhão de dólares. Natal é uma cidade que me impressiona no Nordeste. Não é enorme como Fortaleza, Recife e Salvador, ela tem a medida certa. Dois anos depois voltamos e como em 2008 tivemos a casa cheia. Reencontramos velhos e novos amigos como o Aeson. Galera cantando as músicas junto e tudo mais. Um show bem legal em que a superação contou mais do que nunca devido ao cansaço que já começava a pesar tanto na banda quanto na equipe. Tive um pequeno stress com a banda de abertura, pois os caras tocaram duas músicas a mais do que o previsto e tínhamos um horário determinado para terminar o show devido a viagem para Caruaru no outro dia. O Delano, nosso amigo de longa data, nos ajudou muito e temos muito a agradecer a ele e ao Glenn.

Vigésimo dia – Caruaru e a Ayanne, David, Hugo e Júniors.

Saímos cedo de Natal e, via BR101, passamos por Recife até chegar a Caruaru. Eram 13hs da tarde e alguns fãs já nos esperavam na frente da loja Nova Music, onde fomos recebidos pelo Júnior Eugênio, Júnior Sá e Hugo Mello, nossos anfitriões. Para variar uma coisa estranha aconteceu: choveu forte em Caruaru neste momento. A Ayanne estava lá e nos presenteou com um pacote de balas e guloseimas feitas em Caruaru. Momento de ganhar algumas calorias… Reencontramos velhos amigos como o David Sebastian e o Deninho que tem uma participação emocionada no nosso DVD Last Time. Caruaru faz arte da história do Hangar e sempre temos muito carinho por todos na cidade. O show foi no estacionamento da loja. A ova Music é muito legal, com produtos de primeira linha. A tarde andei do hotel até o shopping da cidade, passei pelo estádio do Central em meio a uma brisa e chuva fina, ou seja, era inverno em Caruaru, uma cidade muito agradável. Quando chegou a noite o lugar estava completamente lotado e uma chuva bem fina caia deixando o clima bem ameno. O show foi animal, com todas as músicas que a galera pediu e direito a bis com várias músicas. Sem dúvida o show mais longo desta turnê com cerca de 2hs15min. No final, como sempre, atendemos a todos. Caruaru tem um lugar especial no coração e na história da banda. Voltaremos sempre se possível. No final da noite ainda assinamos um painel dentro da loja e fomos lanchar com Júnior Sá, Eugênio e Hugo Mello.

Vigésimo primeiro dia – Recife do João Marinho e da Joanna Litiel.

Caruaru é próxima a Recife, então saímos um pouco mais tarde do hotel. Chegamos a Recife, berço do Humberto, após o meio dia. Deixamos o pessoal montando o equipamento e fomos para o hotel. Logo em seguida chegou o nosso padrinho João Marinho. Com pouca divulgação pensamos que o show seria meio devagar, mas Recife foi a primeira cidade do Nordeste que nos apoiou, em 2003, então o que vimos foi um público muito fiel. Encontramos a Joanna Littiel na parte da tarde. Ela nos acompanhou durante toda a estada em Recife, sempre alegre com nosso Internacional, Campeão da Libertadores e as suas viagens ao Rio Grande do Sul para visitar o noivo em Ivoti. Ela praticamente virou uma gaúcha que fala com sotaque “pernambuquês”. Mais uma vez Recife nos recebeu de braços abertos, show inesquecível. Reencontrei o Júnior Patrício, antigo fã da banda, e para comemoração geral da galera nosso amigo Josco chegou para entrevistar a banda e tirar várias fotos. Josco é um amigo querido e seu nome acabou virando sinônimo de “jocosidades” por parte da banda depois que Humberto assinou embaixo uma noticia veiculada no site do nosso amigo. Assim, qualquer brincadeira vinda de Humberto acabava virando: “isso é coisa de Josco”, referindo-se ao seu site. Uma brincadeira saudável que nos divertiu muito nos últimos meses. Espero que o verdadeiro Josco tenha entendido, que não tem nada a ver com a pessoa dele, sensacional. Coisas insanas que somente os Hangarianos entendem.

Vigésimo segundo dia – O roubo do celular e a correia do ônibus

Programamos a nossa volta a São Paulo em três dias de viagem com cerca de 900 quilômetros por dia. Na saída do hotel em Recife fechei a porta do quarto e fui até a recepção para fazer o check out. Três ou quatro minutos depois coloquei a mão no bolso e não achei o meu celular. Pedi a chave de volta e subi até o quarto, mas não achei o mesmo. Voltei à recepção e pedi para ligarem para o meu número. O mesmo estava desligado e eu nunca deixo o celular desligado. Ai bateu o desespero, em cinco minutos eu havia perdido o meu celular que para mim é como um talismã. Vindo de empresas onde a comunicação é a parte mais importante do esquema trabalho, acostumei a ter o celular como uma extensão do trabalho, da família e da vida. Perdê-lo era como estar “órfão” de todas estas coisas. Além disso, grande parte da agenda de trabalho do Hangar estava lá. Todos já estavam no ônibus e comigo apenas o Humberto e o Fábio Didi. Subi até o sexto andar para olhar as imagens do corredor onde eu estava. Vi um estagiário abrir a porta do quarto e um minuto depois um mensageiro. Eu dei duas opções para o segurança do hotel, ou chamar a policia ou eu iria chamar os “bichos” todos de dentro do ônibus e iríamos quebrar tudo. Como sempre fui um cara ponderado disse a ele para chamar a policia. O problema é que eles iriam somente à tarde até o hotel. Resolvi ir embora com a promessa de que iriam, no mínimo, me indenizar pela perda. Eu já estava bastante cansado da viagem e ainda aconteceu isto. Foi foda, não conseguia pensar em outra coisa. O que um cara iria querer com um celular inutilizável. Liguei para a operadora e bloqueei o chip e o celular, ou seja não serviria para nada, nem para vender. Seguimos viagem até a saída de Recife onde paramos para comprar uma correia do alternador do Infallibus. O Didi e o Humberto levaram quase 2 horas para trocá-la. Começamos a atrasar a nossa viagem. Saindo de Recife ficamos mais 2horas na estrada por conta de uma interrupção na BR101 devido às chuvas dos dias anteriores. Chegamos a noite a cerca de 150 quilômetros de distancia de Aracaju e paramos em um posto de combustível onde os caminhoneiros costumam dormir e se divertir com “damas da noite” baratas e com corpos um tanto que questionáveis. Nenhum pré-conceito, apenas a constatação da realidade brasileira. Estrada e suas verdades. Dormimos ali dentro do bus mesmo, alguns preferiram virar a noite aliviando a tensão batendo papo e tomando cerveja no restaurante em anexo. Outros aproveitaram para fazer atividades físicas, tomar banho ou levar as roupas sujas na lavanderia. Ou seja, chega uma hora que naturalmente a estrada acaba virando a nossa casa mesmo.

Vigésimo terceiro e quarto dias – Viagem que não acaba nunca.

Viajar no nosso ônibus é muito bom. Confortável, com ar condicionado e DVD. Mas depois de vinte dias de convivência a coisa fica quase insuportável. Por este motivo eu entendia os arroubos do Aquiles de dois em dois dias parando tudo e aos gritos fazendo a limpeza do busão. É o que chamo de “saída da inércia”, quando tudo está sob controle, levanta-se o ânimo e acorda-se para a realidade. Palavras de ordem, xingamentos, busca isso, busca aquilo… Era tudo que precisávamos para o momento, voltar a realidade. O que nos restava ao longo de dois dias e mais de 2100 quilômetros seria ver a paisagem passando e o máximo de vídeos possíveis. Já estávamos no final de nossa videoteca e o que nos restou foi assistir a duas ou três temporadas da série Prison Break. Os caras que acabam sempre fugindo de uma prisão, seja ela na América ou no Panamá ou em qualquer lugar do mundo…. Foi foda. Atravessar a Bahia e Minas Gerais por belas paisagens as margens da Chapada Diamantina com planaltos rodeados de montanhas. Passamos por Feira de Santana, Jequié, Vitória da Conquista, Teófilo Otoni, Governador Valadares e Ipatinga. Em Teófilo Otoni descobrimos um vazamento de combustível no motor. Pouca coisa e por sorte consertamos na hora. Uma cidade a cada 300 quilômetros torna a viagem monótona para quem já está cansado. Era a terceira vez que fazíamos este trajeto: 2007, 2008 e agora 2010. E como em 2008, o Fábio desceu do ônibus no posto Graal em Perdões, na Rodovia Fernão Dias, virou a madrugada pelas rodoviárias de Minas Gerais, somente pelo intuito de conseguir passar um dia em casa, antes de encontrar com a gente em Sorocaba dois dias depois… Chegamos à capital da garoa a meia noite de quarta feira e fomos alguns para a casa do Aquiles e três para um hotel, que havia sido um motel anteriormente. A cama redonda já entregava tudo, mas o cansaço foi tanto que o Didi e o Tankão nem se importaram de dormir lado a lado.

Vigésimo quinto dia – Lançamento do DVD do Aquiles no EMT

Às dez horas do dia 27 de agosto saímos com o Infallibus em direção ao EMT, em São Paulo. O evento seria o lançamento do DVD do Aquiles “The Infallible Reason of my Freak Drumming”, vai ser nome difícil lá não sei aonde. “Enfim” um evento apoiado pelo EMT, maior escola musical da América do Sul, além da Musical Express e marcas Evans, Gibraltar e Pro Mark. Logo na chegada fui informado que os 250 lugares já estavam esgotados e que mais de 100 pessoas ficariam de fora do evento. Sucesso total. Descemos todo o equipo do ônibus e subimos até o último andar do prédio, no auditório. Caramba, não foi fácil não. Enquanto montávamos o equipamento, o Humberto, o Martinez e o Didi levaram o Infallibus até Itaquaquecetuba para arrumar dois maleiros com troca das borrachas. Eu fui convidado a participar e fiquei muito lisonjeado mais uma vez. Na minha parte, como faço de costume, falo do meu equipamento, mas desta vez foi diferente. Falei da satisfação de tocarmos com aquele cara que um dia foi simplesmente um “batedor de bumbo” e agora é um artista completo, compositor, produtor e músico de renome. Antes o que era um desafio agora é um privilégio, trabalhar com Aquiles Priester, assim como todos os outros integrantes da banda. Acho que o cansaço age sobre o emocional das pessoas e escolhi algumas palavras certas. Depois do evento duas pessoas me falaram que se emocionaram com o meu semi-discurso. Se por um lado o pessoal da banda deve ter pensado: “Mello, seu grande canastrão”, por outro posso dizer que muitas vezes falo com o coração mesmo e não com a razão. Para terminar tocamos “Limelight” do Rush, o que completou a noite. Tocar no EMT, acompanhar o Aquiles em algumas músicas e ainda tocar Rush, foi demais.

Vigésimo sexto dia – Sorocaba e os atrasos dos festivais

A noite anterior terminou cedo e fomos dormir por volta da uma da manhã. Às dez da manhã saímos em direção a Sorocaba, onde iríamos participar de um festival junto com o Dr. Sin e a André Matos Band. Chegamos cedo, por volta das 13hs. Como iríamos usar as ferragens da batera do Aquiles e os tons da batera do Eloy, ficamos aguardando que as outras bandas chegassem. Infelizmente eles chegaram somente no final da tarde. Fomos para o hotel e voltamos para a passagem de som somente às 19hs. O lugar é bem legal em Sorocaba: palco grande , boa iluminação…. O Dr. Sin chegou e nem passou som, foi tocar direto, o que fez com que as bandas de abertura locais fossem limadas por absoluta falta de tempo e atraso. O show deles foi cheio de energia. Acabamos emprestando os amps Maverick para o Ardanuy e o Warm Music para o Andria Busic, além do Ivan também ter tocado na mesma batera que o Aquiles e o Eloy. O show deles terminou 1hs30min e começamos ouvir a galera cantando “Hangar, Hangar, Olé, Olé, Olé, Olé”. Foi muito bacana. Subimos no palco e tocamos exatamente 75 minutos, como combinado. Muita gente cantando as músicas. Encontramos a banda do André Matos no camarim, Eloy, Zazá, Hugo, Fábio e o novo baixista Bruno. Foi o nosso oitavo show juntos. Nunca tivemos problema nenhum com os caras, bem pelo contrário, damos boas risadas. O André inclusive comentou comigo que esteve na minha cidade Gravataí há duas semanas, junto com Orquestra da Ulbra. Infelizmente eu não estava na cidade, mas fiquei sabendo que foi um sucesso. Após passar pelo merchandising, saímos do Plaza Hall e ainda conseguimos assistir uma parte do show do André. Logo em seguida a van chegou e fomos para o hotel.

Vigésimo sétimo dia – A surpresa em Presidente Prudente

Saímos de Sorocaba às oito da manhã em direção a Presidente Prudente, cidade a cerca de 500 quilômetros de São Paulo. Foram 8 horas de viagem, onde todos já estavam bem cansados mesmo, muito mais por estarem longe de casa, e por ser o último show do mês. A sensação de querer que tudo acabasse de uma vez estava mais do que presente. Fomos recebidos pelo Cesinha, que já produziu muitos shows na cidade e nos contou muitas histórias hilárias, outras nem tanto. A produção do César foi perfeita, fomos tratados muito bem. O local do show era enorme e levamos um susto pensando que seria o nosso “Anvil’s Day”. Enquanto a equipe montava o equipamento eu estava no hotel e recebi uma ligação do Daniel “Pepe” Fernandes, nosso técnico de som, dizendo que o Jefferson, mais conhecido como “Pirulão” tinha ido embora. Não acreditei muito no momento, mas depois constatamos que o cara simplesmente pegou sua mala e foi embora pra casa depois de vinte e sete dias exaustivos e cansativos. Foi a “espanação” mais importante dos últimos tempos. Somos gratos ao Jefferson por fazer valer a nossa loucura, o cara não agüentou até o final e “pediu para sair”. Se ele é um fraco eu não sei, só sei que ficamos todos agradecidos a ele nos proporcionar mais um momento de certeza na nossa carreira. Pra fazer o que a gente faz precisa ter muita, mas muita fibra, caso contrário você pega as suas malas e foge como, ele fez… Voltando ao show, chegamos ao local por volta das 23 horas e encontramos um público de umas trezentas pessoas sedentas por metal. Foi insano. Talvez por falta de opções em uma cidade “fora de mão” todas as tribos estavam lá. As rodas formadas nas passagens mais pesadas, as pessoas cantando as músicas junto, não acreditando que estávamos lá e até mesmo um grupo de “emos”, com suas franjas engraçadas e com camisetas do Hangar e gritando a letra de “Time to Forget”, além de um punk com cabelo arrepiado que ficava dançando (pogueando) feito um pica-pau na frente do palco. No final convidamos o Césinha para cantar “Perfect Strangers” conosco. Ainda tocamos a Master e a casa caiu. Todos enlouquecidos. Presidente Prudente comprovou uma das teses de que o que importa é a boa música e não os segmentos. Conseguimos reunir em um único show todos os amantes de música pesada. A energia da banda foi fora do comum, talvez pela pequena bronca que eu havia dado no Humberto e no Martinez na noite anterior, sim às vezes eu me rebelo, rsrsrs, mas muito mais pelo público, que foi brilhante. No final, quando não havia mais ninguém ainda arrumamos forças para contar todo o merchandising e assim avaliarmos os resultados do mês.

Vigésimo oitavo dia – A volta pra São Paulo e a “lenda dos pneus que explodem”

Saímos de Presidente Prudente às 10 horas da manhã, prevendo uma viagem tranqüila com chegada em São Paulo por volta das 18 horas. Tudo corria bem até que um dos pneus traseiros estourou. Lá vamos nós novamente atrás de um pneu. Era domingo e por sorte conseguimos comprar um antes da cidade de Ourinhos. Sabíamos que estávamos com problemas em alguns pneus, mas cerca de 200 quilômetros depois da troca, outro pneu cedeu em sua metade, vindo a explodir cerca de 50 quilômetros depois. Não havia como comprarmos mais um pneu, visto que seria um gasto desnecessário, pois havíamos decidido comprar pneus novos na chegada a São Paulo. Colocamos o step “meia boca” e seguimos viagem até São Paulo torcendo para que nada acontecesse. Bom, dois pneus em um dia já eram de bom tamanho, né? Chegamos a São Paulo às 23 horas e fomos dormir direto devido ao cansaço.

Vigésimo nono dia – A volta para casa e a lenda dos pneus parte 2

Com a necessidade de colocarmos pneus novos no Infallibus, acordamos as 6hs30 para que o Aquiles o Fábio Didi fossem até Itaquaquecetuba consertar mais um maleiro, trocar um pára-brisas que havia trincado e comprar mais dois pneus novos. Eu acabei ficando em Congonhas, pois meu vôo estava marcado para as 10 horas. O Martinez e o Fábio Laguna seguiram para o Terminal Rodoviário Tietê e rumaram para Caraguatatuba e Mococa, respectivamente. Até o momento nos falamos somente por email, bem poucos mesmo. Voltaremos a nos encontrar dia 15 de setembro e a tour continua.

Epílogo

Lembrar de todos os detalhes seria impossível. O que vocês acabaram de ler é um resumo do mês de agosto com o Hangar, 10 pessoas, o Infallibus e mais de cinco toneladas de equipamento. Por falar do Infallibus, não posso deixar de comentar que depois de quase um ano que ele está conosco foi neste mês, em que praticamente moramos nele, que podemos apreciar a sua real utilidade e importância. Acho que nos apegamos de tal forma aquela máquina de motor potente que ele transformou as nossas vidas um pouco a cada dia. Hoje não imaginamos a banda sem o Infallibus. Pessoalmente acho que no decorrer dos anos ele vai se tornar uma lenda do metal nacional, um tipo de herói de alumínio. Se vai acontecer ou não, somente o tempo poderá confirmar. Se existe um sonho por trás de um grupo ou banda de rock posso afirmar que na nossa cabeça este sonho está se concretizando. É um longo caminho a percorrer, que leva anos a fio, mas o que sentimos na estrada é a proximidade com o público. Não nos escondemos atrás ou em cima do palco, saímos dele e vamos ao encontro das pessoas que nos apóiam. A busca pelo show perfeito e pelo reconhecimento nos persegue e nós a perseguimos sem parar. Uma vez eu disse que estava atrás do pote no final do arco-íris e o meu grande amigo Eduardo Martinez me disse que nós já o havíamos achado. Hoje acho que ele tem razão, se tudo isto acabar daqui a alguns anos, saberemos que as amizades que fizemos continuarão e que de alguma maneira ou outra uma pessoa que esteve em um show do Hangar o lembrará para sempre. Alguns talvez não lembrem nem o nome da música, ou os nossos ou mesmo da banda, mas algumas centenas lembrarão daquela banda louca que tinha um ônibus personalizado e que fazia um puta show. Temos ainda uma longa trajetória a percorrer e esta turnê não está no fim não. Aguardem a continuação deste longo diário muito em breve. Apenas 31 cidades receberam a nossa visita. Ainda faltam muitas e nós queremos ir até ai. O que você está esperando?

Abraços,

Nando Mello e Hangar.

Categoria/Category: Diário

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